terça-feira, 5 de abril de 2011

Mulher-esqueleto

Não entre no meu mar. Vá embora. Meus ossos não te servem. Não tenho carnes, nem cabelos, nem seios, nem seria sua mamãe. Vá embora. Eu posso viver no fundo do mar, eu não quero me arrastar no seu barco, na sua vara, na sua fome. Não despeje sua chuva nas minhas costelas secas. Não tente fecundar as marés, vá, vá logo. Não atire cartas ao oceano esperando minha resposta de dentes, todos os dentes. Não. Eu estou sozinha, e aqui vou enterrar-me na areia das profundezas, encontrar rasas raízes entre as algas e as anêmonas. Você já se foi, então vá. Esse ódio, essa dor, esse triste fim - deixe-o ser. Eu não vou arrancar seu coração para fazer dele minhas carnes. Eu não quero mais você, pesca.dor.
Então, não se alimente mais de mim. Eu sou só ossos, vá para outra praia. Refastele-se de sadismo em outra baía.
Meu canto, de outrora sereia, não se fez ouvir. Você não entendeu meu apelo suplicante. Palavras ofensivas por te querer. Longe.
Porque eu não posso reduzir-me a ainda menos que mulher-esqueleto. Mesmo assim, se esses poucos e podres ossos fazem estilhaços na sua embarcação... reme! Só depende da sua força para estar longe, portanto, marinheiro, reme!

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