segunda-feira, 28 de março de 2011

Como eu faço pra sair daqui de dentro?

Método de tentativa e erro

Eu começo os dias achando que vou sobreviver, que é possível, que as coisas vão se acertar. Quando são 16h25 eu já não tenho mais a mesma solidez. Eu me desfaço. Isso tudo porque eu inventei, foi me dito. Deve ter sido mesmo. O que me deixa sem consolo é que inventei para pessoa alguma, para nada, para Alguém-ninguém. Eu deveria ter escutado, lutado, me negado. O contrário, eu quis. Eu fui até o fim, bisbilhotei e quando vi fosso me atirei, sem dó da minha matéria, sem piedade da minha auto-estima.
Eu preciso me lembrar constantemente da tristeza que me foi causada, pra não ser Maria-ninguém e escrever mensagens de novo, e juntar cacos de garrafas pra atirar precipício abaixo, como se eles fossem a própria carta. A tortura que me fragiliza, quando releio as cartas, quando revejo as imagens, quando escuto os sons, essa mesma tortura de madaleine, é ela que me faz subir morro acima todos os dias.
Você nunca me quis, nunca me amou, nunca pronunciou meu nome. E quando ouviu meus gritos pela primeira vez, disse chega. Pela primeira vez ouviu meus gritos, e pela primeira vez disse chega. Porque os ouviu, porque se eu não gritasse nada te despertaria.
Me odiar e se cansar de mim foi simples. Me ofender, me atirar às cobras, isso foi feito desde o princípio. E ainda assim eu quis. Eu quis espaço, eu quis corpo, eu quis as palavras duras, os açoites, eu quis tudo. Queria ver diferente hoje e já. Queria não ter querido.
Mas como todo mundo sabe, eu quis demais.
Fecharam-se as comportas*, as portas, as janelas. Aqui não está e não estará. Tenho meu espaço. Agora pausa, vou mais uma vez subir à tona.